quarta-feira, 29 de abril de 2009

À deriva

A violência do imperfeito.. Faz-me desesperar. Não sei onde quero chegar. Pelo meu pensamento passam muitas coisas dispersas.. Ideias, lembranças, testemunhos.. Não sei onde quero chegar, não sei de que meios me quero munir.. Quero só estar. Eu só me movo.. Estou mais sozinha do que em qualquer outra ocasião. Cada vez uso menos a minha voz e já não sinto que a minha vida seja tão testemunhada por aquela pessoa.. Não da mesma forma.. Agora partilho apenas algumas coisas, certos planos.. Sinto que cada vez estou mais comigo.. Não que não precise dos outros! Pelo contrário. Talvez este seja o momento em que mais preciso dos outros.. É só que a vida levou-me por este caminho.. E eu, obediente, deixei-me ir.. Estou a conhecer sensações diferentes.. Vontades diferentes que jamais foram as minhas.. Estou só à deriva, levada pela corrente..

Transparente



Cá estou eu uma vez mais. Mais um dia quase passado, mais um dia a meio com pouco mais de absoluto a esperar.. Já fiz a minha parte, já cumpri as tarefas do dia, pelo menos as que assumo verdadeiramente.. Os dias passam assim. Sinto-me desconfortável nesta pele. Tenho vontade de falar, mas não largo o sorriso nervoso.. Não sai nada e o que sai não faz sentido. Desconexo, descontextualizado.. Quero esconder e quero mostrar.. E na indecisão das duas, não transmito nada de verdadeiro, mas algo muito mais representado.. Sinto que estou debaixo de um holofote gigante que tolda os meus actos e faz de mim uma marioneta! Já não consigo distinguir os meus gestos expontâneos dos intencionais.. Dos que mais ou menos subtilmente procuro realçar para deixar a minha mensagem, as minhas pistas.. Temo os olhares. Temo acima de tudo os olhares e o que possam significar.. Sinto-me tão artificial que, saída desse palco, só me apetece chorar.. Frustrada pela incompreensão do meu número.. Sinto-me mais sozinha neste espaço, que nos outros em que estou só.. Aqui não consigo parar de representar.. e lá fora posso ser simplesmente eu, sem recear esses olhares, sem ter de explicar coisa nenhuma.. Fora daqui tudo é impessoal.. Cada um com que me cruzo metido consigo mesmo. É igual passar por alguém sério ou sorridente.. Ninguém vê, ninguém está interessado! Somos transparentes. E essa transparência faz-nos sentir mais confortáveis, que o palco em que nos movemos, esse ambiente familiar onde nos conhecemos.. Ali somos observados e, por isso, corremos o risco de sermos vistos.. Lá fora, somos só mais um, somos só um número numa multidão de rostos sem identidade.. Atravavessar aquela porta, significa o fim de um acto colectivo.. E com o movimento de libertação de a abrir, caiu o sorriso, caiu a expressão.. Estou novamente só comigo. Sou eu outra vez, sem constrangimentos, como gosto de dizer.. Sou novamente transparente.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Cansaço

Nada é fácil. Nada é simples, nada é linear.. Estou cansada de sorrir sem vontade, de falar através de mediadores tecnológicos.. Sinto-me perdida e magoada.. Sinto que tenho nas mãos um qualquer poder de castigar que de nada me serve.. Vejo-me forçada a proferir palavras que queria guardar, a ferir, a dizer o que ainda preciso repensar.. Quero estar sozinha. Quero esse silêncio que eu abomino! Estou cansada de falar, destes jogos entre o dito e o não dito, que requerem demasiado esforço.. Quero deixar-me estar, aninhar-me, simular esse calor.. fechar os olhos. Pesa-me o dia, pesa-me a noite.. Quero dormir, quero desaparecer! Quero descansar..

sábado, 25 de abril de 2009

Ressaca



É irónico.. Toda a semana me lamento por estar sozinha e agora que há pessoas à minha volta.. Escondo-me no meu quarto, expresso-me com os dedos.. Recolho a voz, como sempre.. Sou um bicho estranho.. Um bicho de temperamento inconstante, que muda de pele e de vontade demasiado depressa.. O barulho fere-me os ouvidos, procuro referências, demasiado dispersas.. Invejo os sorrisos de fotografias alheias e desejo ser diferente.. Ser outra, pensar de outra forma.. Paro, olho, escuto.. Em busca de uma pista.. Sinto-me abalada por uma noite inesperada.. Sinto-me esmagada por palavras que não sabia esconder.. Os meus olhos rebrilham só de lembrar.. E procuro ter esperança de que alguma coisa vai mudar. Mas não sei se acredito. Inspecciono esta recordação que parece tão irreal e questiono-me se estou certa, se fiz a coisa certa da forma certa.. Será que me apaguei? Quanto mais o penso.. mais vontade tenho de o fazer.. de me enterrar debaixo dos cobertores e ficar quietinha, em silêncio, para ninguém dar por mim.. É um recomeço e a violência da reviravolta deixou-me de ressaca.. Será que? Não sei.. O calor daquele abraço é o meu maior consolo..

sábado, 18 de abril de 2009

Corrida de Obstáculos

O que mais senão o amor.. me inspira e inspira o mundo? O que mais senão o amor desperta corações e move pessoas? Amor, Paixão.. Pela vida, pelos outros, por um sonho, por um objectivo.. A vida é uma corrida de obstáculos disputada entre nós e o mundo, dividida em infinitas etapas.. Corremos de olhos postos na meta final mas pelo meio vamos disputando pequenas batalhas.. Vamos angariando reforços, vamos coleccionando medalhas.. vencendo cada dificuldade, cada contratempo.. Um a um.. Passo a passo..*

"Voo nocturno"



Através da minha janela só escuro, tudo breu.. O ecrã do telemóvel ofusca-me a visão e lá de fora ficam apenas os recortes.. Os pontos brilhantes. As sinaléticas que nos indicam por onde ir.. Directrizes, indicações.. Escuro. Pessoas reunidas por um destino comum. As oscilações, os sons do motor, embalam-me levemente.. Os fones nos ouvidos, a música que corre sem mim.. Há lá cenário mais propício para pensar, que uma viagem? Não precisar de trocar palavras com ninguém, ser conduzido sem esforço.. Ninguém exige nada de mim, ninguém espera nada de mim.. Ficamos entregues a nós próprios, rodeados de desconhecidos.. Acompanhamos a imagem que passa na nossa janela, atentos ou simplesmente repousando o olhar.. O silêncio da voz absorta, desarmada.. Permito-me relaxar e deixo-me levar pelo movimento.. A cabeça apoiada, o corpo pesado.. O momento é só meu e todos os meus sentidos ficam alerta, identificando, percepcionando.. Momentos parados em que a nossa atenção não é disputada por nenhum interesse económico. Em que ficamos entregues a nós próprios, às nossas lutas interiores.. Ao que é nosso e só com o nosso consentimento pode ser alcançado, por maior que seja a perspicácia de alguém a ler expressões ou a ausência dela.. Momentos vazios em que me permito sonhar mais alto..

Lost

Mesmo nos lugares mais imprevisíveis, temos algo a aprender.. em cada lugar um ensinamento.. E cada novo passo que vamos dando nesse sentido.. Marca-nos, defini-nos e aos nossos limites.. Lá fora há um mundo de possibilidades e quanto mais vamos vendo, mais vontade temos de continuar a explorar.. Mais claro se torna aos nossos olhos, como somos ignorantes.. O quanto há ainda para ver! Hoje senti-me bem rodeada de tantas coisas mágicas! De tantas palavras sábias e lugares imponentes.. Quem dera estar ali e ser assim.. E ser acarinhada daquela forma! Quem dera.. Falta-me crescer.. faltam-me interesses, saber por onde seguir.. No fundo tenho muitos sonhos! Só são demasiado difusos.. E é por isso que vou seguindo as minhas vontades, na esperança de fazer "clique".. Algum dia há-de acontecer.. Talvez só precise de estar mais atenta..

terça-feira, 14 de abril de 2009

Fairy tails



Pois é.. Estão oficialmente no fim! As férias, claro.. Foram dias abençoados, apesar de tudo.. Eu e ele estamos mais perto, reina a paz aqui em casa e até a reportagem começou a andar! Os meus horários estão completamente trocados.. E a sobrecarga de filmes é mais que muita! Mas o tempo vai passando sem problemas de maior.. Depois de ver o Sexo e a Cidade pela.. Quarta? Quinta vez..? nas últimas duas semanas.. Ressoam expressões na minha cabeça.. "You are not alone", "ever thine, ever mine, ever ours".. Só porque gosto.. Só porque sou uma romântica e gosto de finais felizes.. Só porque tenho a minha esperança secreta (não tão secreta assim..) de ter também um final feliz, de ser a princesa de um conto-de-fadas.. Adoro todo aquele cenário tão moderno e tão inacessível.. Quem dera ser uma daquelas mulheres bonitas, felizes e bem sucedidas.. Quem dera ser uma daquelas princesas em cima dos saltos altos, com os seus fabulosos vestidos.. Que talvez não sejam tão fabulosos assim.. Acho que o que os torna e as torna especiais é a atitude.. E no final o que importa é sermos fiéis a nós próprios.. é a amizade, é o amor.. Não é a mensagem de qualquer conto-de-fadas? Para mim é.. E talvez não seja assim tão inacessível.. Quiçá? Ao Homem é pelo menos permitido sonhar!:)*

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Sinais



Vivemos imersos em símbolos. Sinais de que nos servimos para demonstrar fisicamente, exteriormente algo que é interior, privado.. Invisível. Como no teatro, em que só o que é demonstrado, verbalizado, é que existe. O domínio dos pensamentos e dos sentimentos está apartado dessa realidade expressiva. Dar a conhecer é objectivar o subjectivo.. E é para isso que servem essas pequenas pistas que vamos deixando.. Tudo, desde a nossa expressão facial e corporal, nos denuncia. Relata algo sobre nós. A roupa, os lugares que frequentamos, a decoração da casa, o tipo de transporte.. As pessoas com quem nos relacionamos, o trabalho e os hobbies que temos.. Sei lá! Vestir de preto quando se está de luto ou usar aliança de casamento.. Tudo isso contribui para construir o nosso retrato, reflecte um padrão, os nossos gostos.. Por todo o lado vamos deixando pistas para nos lermos.. Sinais que mostram quem somos ou quem aspiramos ser, sinais que revelam onde pertencemos.. O que queremos demonstrar e o que procuramos esconder.. Evidências, testemunhos, provas.. Sinais. Recordações que tornam vivos momentos passados, histórias e memórias.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Nostalgia



Hoje decidi aventurar-me. Abri a porta da varanda e puxei uma cadeira para o terraço. Sentei-me. Noite alta, o tempo revolto.. O chão está molhado e o vento sopra.. Fresquinho, han? Uma revoada mais forte. Sinto-me tremer debaixo do pijama, os pés nus enfiados nos chinelos.. Sinto-me tremer, de frio e de medo. Paira uma sensação de vazio.. As árvores agitam-se, toca o sino da igreja. Não há lua, não há estrelas, só nuvens anunciando o mau tempo..

Costumava sentir-me segura aqui, em contacto.. Gostava de me deitar no chão e deixar-me estar, inventar histórias.. Costumava dançar descalça, de olhos postos no mar que se esconde lá ao fundo, no escuro.. Estar aqui desperta-me, arranca-me à moleza torpe das mantas.. das horas passadas no sofá, saltitando de filme em filme, de série em série.. É viciante! Às vezes penso que já não tenho consciência.. Ou pelo menos ela já não é eficiente na sua função de me arrancar à preguiça.. O trabalho acumula-se enquanto eu gozo de férias.. Ainda assim a culpa persiste, impelindo-me a escrever.. impedindo-me de esquecer..

Hoje fui passear. Teria sido ontem, mas os imprevistos cercaram-me, e em vez de uma caminhada banhada pelo sol, tive uma regada pela chuva.. O que não tem de ser necessariamente mau, não é? Talvez seja o destino.. O jardim é o mesmo, as pessoas, as causas.. Muda o dia que marca o calendário, mudam as palavras, o momento.. Na minha mão tenho a tua e basta.. O resto vem por acréscimo, a seu tempo..

Está frio e o som é assustador, as mãos geladas.. Já não quero estar aqui. Não hoje, não agora. Quero regressar noutro dia e poder deitar-me no chão, escutar o mundo girar sem pressas.. Quero regressar noutro dia em que a atmosfera esteja pacífica e não carregada desta revolta.. É incrível quão facilmente conseguimos alhear-nos desta energia vibrante, desta agressividade.. Fechamos as portas e as janelas ao mundo.. E brincamos de faz-de-conta.. Os sons lá de fora podem ser tudo o que quisermos.. Basta acreditar.. Basta usar a imaginação..

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Ciclicamente



Tudo acaba por se repetir, os estados de espírito.. As etapas mais ou menos dinâmicas, mais ou menos inspiradoras.. A dada altura tudo se assemelha a algo! Tudo pode ser classificado e colocado debaixo do devido chapéu.. Oscilamos entre pólos positivos e negativos.. Ora mais de um lado ou mais do outro.. No fundo, tudo se resume a isso.. Tudo se reduz a essa equação tão simples..

Atordoada novamente.. Como antes, como sempre.. ciclicamente.. Há algo de muito pesado aqui e isso tolda quem eu sou e os meus pensamentos de velha.. Fiquei tremendamente desapontada quando há uns tempos alguém no supermercado disse que era muito "menineira" e parecia ter 14 anos.. Ofensivo aos meus ouvidos.. Diz-se que a idade é um estado de espírito. Pois bem, o meu é variável! Entre as manifestações infantis, tão espontâneas (quiçá?).. Tão confortáveis, sim.. Libertadoras! E este peso que me vem de outrem com uma perspectiva menos feliz que a minha, menos optimista.. mais ferida e desencantada.. Que me faz temer os seus passos e crescer o meu fantasma. Fico entre esses dois pólos, escapatórias um do outro! Não sei se as minhas perspectivas têm algo de original.. Meras leituras! Leituras à minha maneira, moldadas por essas pequenas experiências.. Sim. Talvez algures no meio me encontre eu.. Cada ponto nesse vaivém sou eu. Ciclicamente..

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Balanço



Dei em ler o que tenho dito por aqui.. E cada pedaço de mundo que descrevo.. encaixa tão perfeitamente num tempo e num espaço, num momento.. que quando releio me parece muito distante e talvez algo irreal.. Orgulho-me de escrever o que sinto.. Mas tudo é tão transitório que surge demasiado fantasiado.. A autenticidade perde-se por entre os jogos de efeito.. Mas ainda assim acredito nalguma essência que ali resida.. Acredito que tem um significado.. Se o disse foi porque nalgum momento fazia sentido e escrevê-lo fez-me sentir mais leve.. Só por isso já considero que valeu a pena. E gosto. Gosto de me reler e me reencontrar na efemeridade das palavras.. De alguma forma dou graças por ter parado por uns instantes, reflectido e registado.. Ou aquelas sensações que considerei tão fortes, tão difíceis de conter, ter-se-iam perdido e juntado à memória difusa que fica da generalidade dos dias.. Esta função da escrita enquanto registo, o tal remédio que é veneno.. Relembra-me do que fui e revela-me quem sou e o que me dá prazer.. Desloco o orgulho para outro objecto.. O texto concluído.. a que sempre dá vontade de acrescentar um ponto.. Reflexão em constante formação.